Antes de existir vacinas, quase 30% das pessoas infectadas com alguma doença mais grave morriam. Até que Edward Jenner inventou a vacina, e a testou em seu próprio filho. Desde então, a vacinação se tornou uma das mais bem-sucedidas medidas de saúde pública da história, evitando hoje pelo menos 2 milhões de mortes por ano, segundo a Organização Mundial da Saúde. Sem vacinas, o século 20 teve quase trezentos milhões de mortes. No Brasil, a primeira vacina chegou em 1804, nos braços de um negro escravo.
É consenso que a vacinação é método seguro e eficaz de proteção das pessoas contra doenças antes que elas fiquem doentes. Isso acontece a partir do treino do sistema imunológico para criar defesas como os anticorpos, segundo definição da Organização Mundial da Saúde. Para isso, as vacinas contêm geralmente formas enfraquecidas ou inativadas de vírus ou bactérias que não colocam a saúde em risco. O corpo então identifica esses micróbios, produz defesas contra eles e cria uma espécie de memória de combate que servirá contra ataques futuros por anos ou décadas.
Mas há resistências. E são resistências desde que as vacinas apareceram. No meio há motivos de questões religiosas, sanitárias e até políticas. Pergunta-se se é lógico infectar alguém saudável com um vírus para testar a eficácia da vacina. Ou como garantir que a imunização seja segura e não ofereça riscos à saúde de quem a recebeu. Na Inglaterra, por exemplo, o número de pessoas que afirmaram que vão recusar a vacina da covid é de 5%. Nos Estados Unidos, metade da população. Em 1904, no Brasil, aconteceu até a Revolta das Vacinas, quando o sanitarista Oswaldo Cruz quis vacinar a população do Rio de Janeiro.
Quando uma parte considerável da população está protegida via vacinação, atinge-se o patamar de imunidade coletiva (ou imunidade de rebanho). O ideal é imunizar a população inteira, mas em alguns casos vacinar 80% dela já surtiria o efeito esperado porque derruba a probabilidade de uma pessoa infectada contaminar alguém suscetível. O sarampo, altamente contagioso, demanda 95%.
O Brasil começou a usar vacinas em 1804 em importação feita pelo marechal Caldeira Brand Pontes, o marquês de Barbacena. Segundo documentos oficiais e estudos históricos, o transporte do vírus vacinal de Lisboa para a Bahia foi feito a partir do contágio de um negro escravizado para o outro, uma conservação da linfa braço a braço durante os 40 dias de navegação no oceano. Segundo o historiador Sidney Chalhoub, as cobaias eram sete crianças da propriedade do marquês, acompanhadas durante a viagem por um médico que aprendeu a técnica da vacinação e foi as infectando sucessivamente. No ano seguinte, algumas províncias já adotariam vacinação obrigatória para a população a partir de institutos vacínicos.