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quinta-feira, 18 abril, 2024

iFood estaria ameaçando entregadores terceirizados

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O iFood quebra um galhão. Tanto para o dono do restaurante quanto para o entregador, normalmente alguém que estava desempregado, como para quem pede a comida. Calcula-se que haja 170 mil entregadores, trabalhando em dois sistemas, o Nuvem e o Operador Logístico. No primeiro caso, Nuvem, o entregador, normalmente motoboy, espera o chamado perto de lugares onde haja concentração  de restaurantes ou supermercados. Ele mesmo organiza seu trabalho – se não estiver com vontade rodar, é só desligar o celular e ir para a soneca doméstica.

No outro sistema, o Operador Logístico, é que estão os problemas. Na realidade, o OL é uma empresa menor, subcontratada pelo iFood. Muitos o enxergam como terceirização das entregas. Outros afirmam que esse tipo de trabalho permite mais renda aos entregadores. Mas a maioria dos entregadores entende que é só uma forma de aumentar o controle do iFood sobre o trabalho, contrariando o discurso de autonomia da empresa. Com a pandemia, sem restaurantes abertos, o trabalho aumentou e os problemas apareceram.

Na Capital, há OLs com frotas de até 400 motocicletas. Mas há entregadores que usam também bicicletas. Entregadores OL precisam cumprir horário fixo todos dias, com uma folga por semana. Também não podem desligar o celular ou ir para casa quando querem ou precisam. É um sistema no mínimo opressor: ter jornada de trabalho fixa, mas salário não; não há também férias e folgas remuneradas, 13º salário. Também não ganha nada se não tiver entregas para fazer. Registro em carteira nem pensar. Ou seja, está cheio de deveres, mas não tem direitos.

Normalmente, os entregadores OL fazem dois turnos, e em cada turno há pausa de 20 minutos para descanso. Há entregadores que, por necessidade, cobrem os dois turnos. A explicação do iFood: “Para os entregadores vinculados aos Operadores Logísticos, as entregas e as gorjetas pagas pelos clientes finais são pagas pelo IFood diretamente aos Operadores Logísticos e estes remuneram os seus entregadores nos critérios acordados entre os Operadores Logísticos e seus entregadores, não tendo o IFood qualquer ingerência na forma, periodicidade e valores pagos pelos Operadores Logísticos”.

Essa não ingerência do iFood está prejudicando os motoboys. Alguns contam que em caso de falta ou de atraso, são ameçados pelos gerentes das empresas OL. Pode ser caso de suspensão, e é fácil – o gerente bloqueio o aplicativo do entregador punido. Eles dizem que se reclamam também podem ser suspensos. ‘Trabalhos num clima de ameaças o tempo todo”, diz um dos motoboys. Há casos de demissões por WhatsApp, sem qualquer explicação. E muitos foram demitidos no começo do mês passado, quando os entregadores ameçaram e fizeram uma greve. Greve pequena, mas greve.

Há entregadores também demitidos por se recusarem a fazer entregas longe demais e em lugares considerados inseguros. Alegar que estava chovendo não adianta. A Justiça não colabora, emitindo decisões que deixam dúvidas. No site do Conjur, há uma sentença de uma juíza afirmando que “restou demonstrado que o trabalhador se coloca à disposição para trabalhar no dia que escolher trabalhar, iniciando e terminando a jornada no momento que decidir, escolhendo a entrega que quer fazer e escolhendo para qual aplicativo vai fazer, uma vez que pode se colocar à disposição, ao mesmo tempo, para quantos aplicativos desejar”.

A Justiça do Trabalho normalmente não tem reconhecido vínculo empregatício entre trabalhadores de aplicativos e as empresas. Em janeiro, por exemplo, a Justiça negou uma ação civil pública que pedia essa vinculação com o IFood. Segundo a juíza Shirley Aparecida de Souza Lobo Escobar, essa nova relação de trabalho é inovadora por ser intermediada por tecnologia e se enquadra no modo autônomo.

Motoboys reclamam também da falta de assitência das empresas – não só do iFood. Um deles desabafou em redes sociais: “Somos nós que custeamos tudo: pneu furado, gasolina, capacete, comida e até a mochila. Se quebra a alça da mochila ou o isopor, nós que pagamos. O app não tem filtro e manda a gente buscar compras dignas de quem tem carro, e eu não estou exagerando. Já fui buscar compra que tinha balde, vassoura, sabão em pó, galão grande de amaciante e cândida, frango, farinha de trigo, tudo isso para eu levar na bag”. Como é impossível atender tudo como o cliente quer, a vingança com a nota baixa do mesmo cliente, o que diminui a pontuação do entregador na empresa. Pelo jeito vai ter mais confusão.

Urbem
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A Editora Urbem faz parte do Grupo Novo Dia e edita livros de diversos assuntos e também a Urbem Magazine, uma revista periódica 100% digital.
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