Assim que surgiu a ameaça do coronavírus, os idosos foram os primeiros a serem incluídos em grupos de risco. Idosos, via de regra, gostam de passeios, mas o medo de ficar doente os obrigou a ficar em casa. E em casa, sem os velhos amigos de bancos de praça e rodas de conversa fiada, estariam solitários. Nâo é bem assim. Uma pesquisa feita por quatro centros com serviços de geriatria concluiu que só 5,3% sentem a solidão. 95% dos idosos deixaram de sair – só saem em caso de extrema necessidade.
A pesquisa começou em abril com um grupo de 557 idosos de 60 a 100 anos. A pesquisa, feita por telefone, está prevista para terminar em outubro. O estudo inclui perguntas sobre medidas de prevenção adotadas, frequência de saídas, recursos de comunicação usados para falar com parentes e amigos, atividade física e saúde mental. As conversas com os pesquisadores duram de 20 a 30 minutos, dependendo da vontade do idoso em esticar ou não o assunto.
“Quando começou a quarentena, a gente começou a receber muitas ligações dos pacientes. Era muita ansiedade e percebemos que não ia ser fácil – mas eles estão aderindo bem às recomendações. Os idosos que relatam impacto são os que tinham vida muito ativa, rotina na rua e atividades. No entanto, quando olhamos a escala de solidão, ela está em níveis baixos. O que dizem é que recebem ligações todos os dias, que estão se sentindo mais acolhidos do que antes”, explica Daniel Apolinário, geriatra do HCor e um dos coordenadores do estudo, conduzido pelo Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, pela unidade de Cardiogeriatria do Instituto do Coração (InCor), pelo Hospital do Coração (HCor) e pelo Serviço de Oncogeriatria do Instituto do Câncer do Estado.
Mas os idosos não estão quietinhos. A maioria fala com filhos e parentes regularmente. Alguns, diariamente. Com a pandemia, tudo ficou parado. E os velhinhos deixaram de frequentar os chamados bailes da saudade. O que está preocupando os pesquisadores é a pouca atividade física.
De acordo com a pesquisa, 58% dos idosos disseram que em fevereiro não faziam exercícios. Em abril, 73% afirmaram que estavam sedentários e o índice subiu para 78% em junho. Entre os ativos, 17% afirmaram que se exercitavam antes da quarentena. O número passou para 9% em abril e atingiu 4,5% em junho. “Houve queda violenta de níveis de atividade física e essa é uma preocupação de longo prazo. É uma população de alto risco, que vai ficar muito tempo em quarentena. Eles foram os primeiros a entrar e devem ser os últimos a sair”, diz Apolinário.
Também chamou atenção a ansiedade dos participantes. “A taxa de ansiedade é relativamente alta. Nos estudos, ansiedade e depressão têm prevalência semelhante. Aqui, a taxa de ansiedade é quase o dobro da de depressão. No começo, eles tinham medo de se infectar, houve preocupação com o desemprego”. Em abril, 17% contaram ansiedade e o número chegou a 19,5% em maio. Em junho, caiu para 15%. No caso da depressão, os índices foram 8,5%, 12% e 9%, respectivamente.