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terça-feira, 23 abril, 2024

Bancos ingleses lucraram com a escravidão no Brasil

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Oficialmente, 4,8 milhões de africanos foram trazidos à força para o Brasil para serem escravizados. O auge do tráfico se deu entre 1800 e 1850, quando desembarcaram por aqui mais de 2 milhões de pessoas. Os dados são do Transatlantic Slave Trade Database (Banco de Dados do Comércio Transatlântico de Escravos). E trazer escravos custava muito, exigia contatos. E nessa os banqueiros ingleses aproveitaram para ganhar o seu, que não foi pouco. Alguns compravam Títulos do Tesouro. Mas só alguns. A maioria financiava a viagem e o salário do pessoal embarcado, além da compra de escravos na África.

Mas em 1833, a Inglaterra aboliu a escravidão em suas colônias, e foi aí que os banqueiros aumentaram seus investimentos e seus lucros. A pesquisa é do historiador Joe Mulhern, da Universidade de Durham, Inglaterra. Joe é especializado em estudar o envolvimento dos ingleses com a escravidão no Brasil. E a coisa foi longe. Havia banqueiros que compravam escravos para si para depois revendê-los com lucro. Segundo o trabalho de Joe, um censo feito em 1849 mostrou que havia 3.400 escravos de propriedade de ingleses.

Depois de fazer sua parte, abolindo a escravidão nas colônias, o governo inglês passou a fazer pressão para que o Brasil também promovesse a abolição. E então surgiu um acordo com o governo inglês,quando surgiu a lei proibindo o tráfico de escravos por aqui. Lei é lei, mas ninguém fiscalizava. E o negócio ilegal corria solto. Dá nasceu a expressão para inglês ver. “Já existia o mito de que os senhores de escravos no Brasil eram benevolentes. Os ingleses diziam que eles eram ainda mais, explica Mulhern. Mas não há nenhuma evidência de que a escravização, uma prática baseada na violência ou na ameaça dela, era menos cruel quando praticada pelos ingleses”.

Muitas vezes os escravos eram parte das propriedades usadas em garantias de empréstimos de um banco. Na dissertação de Mulhern, ele resgatou casos em que bancos ingleses tinham um devedor insolvente e acabavam leiloando os escravizados para cobrar a dívida. Um desses bancos era o London and Brazilian Bank, criado em 1862 (e comprado em 1923 pelo Lloyd’s Banking Group, que existe até hoje). O banco continuou envolvido com a escravidão até a a abolição no Brasil, em 1888 — ou seja, mais de 50 anos depois da abolição da escravatura nas colônias britânicas, como Jamaica e África do Sul.

Um dos executivos do London and Brazilian Bank, Edward Johnston, chegou a ser dono de escravos no Brasil e a casar com uma família que era dona de uma fazenda de café no Rio de Janeiro. “A riqueza gerada com a escravidão no Brasil ajudou a estabelecer um banco que investiria na exploração de pessoas”, afirma Mulhern. Em 1869, o Barão do Turvo, fazendeiro carioca que tinha uma dívida com o London and Brazilian Bank, não pagou um empréstimo que devia.

“O banco então entrou com um processo para recuperar o dinheiro, e como havia pessoas escravizadas como garantia, elas sofreram a consequência”, explica Mulhern. Advogados do banco fizeram um leilão de 103 escravizados, incluindo famílias com crianças e bebês.

Documentos da época mostram como o banco vendeu pelo menos 30 dessas pessoas no leilão — entre elas a pequena Ancieta, uma bebê escravizada de apenas um ano de idade, e as crianças Adelina e Marcellina, vendidas com 2 e 6 anos.

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