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sexta-feira, 19 abril, 2024

Amigas, amigas…

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Sônia e Edna era o que se pode chamar de amigas inseparáveis. Confidentes. Íntimas. Haviam chegado aos 30 anos solteiras, mas bem rodadas. Sônia diz ter perdido a conta de quantos homens estiveram em sua cama. Edna anotava tudo e dava nota aos amantes. Desde que havia começado a transar, com 16 anos, só dois amantes conseguiram nota 10. Um deles tinha zero porque havia brochado na hora H. A média ficava nos oito. Sonia não estava nem aí com essas estatísticas sexuais. Dando, tendo prazer, era o que importava. E não cobravam nada. Mas motel, hotel, bebida e jantar corriam por conta do escolhido.

Na cidade, eram o assunto das rodas masculinas em churrascos e festas. Mas a mulherada casada nem desconfiava das aventuras de seus maridos. Aventuras perpetradas durante a tarde, quando não suspeitavam de nada. Achavam que sexo só era feito à noite. Pelo menos em casa era assim. Mas os maridos sempre davam um jeito de escapar do trabalho – de manhã ou à tarde – para se entregar a uma das duas, sempre disponíveis. Edna era cabeleireira e manicure. Dizia-se até que ela havia dormido com o padre. Sônia, revendedora de perfumes. Horário livre para o que desse e viesse.

E um dia, um engenheiro da capital apareceu por lá. No hotel ouviu um zum-zum-zum sobre a facilidade de comer uma das duas, e tratou de se informar com o porteiro, que prontamente passou os telefones. Era só escolher e marcar hora. Bom de conversa, o engenheiro, que trabalhava numa empresa americana, convidou as duas para uma orgia, a ser feita no próprio hotel. E as duas não se fizeram de rogadas. Apareceram na hora marcada.

Bonitão e galanteador, o sujeito tratou de oferecer uísque, vodca, campari, cerveja, vinho… Elas que escolhessem. Se encheram de vinho e foram para o banho. Os três. A pegação começou embaixo do chuveiro.

Depois foram para a cama, um pouco pequena para três. Mas deram um jeito. Rolou de tudo. Tudo, entenda-se como coisa de fazer inveja à Sodoma ou Gomorra. A farra se estendeu pela noite, e o rapaz não dava sinal de cansaço. Deu conta das duas, e combinou para voltarem daí a dois dias. No mesmo horário, e se tivessem mais uma amiga, a farra seria em quatro da próxima vez. Na hora da despedida, o engenheiro deu três notas de cem pra cada uma. É para o taxi, justificou.

Sônia e Edna, vendo a possibilidade de ganhar mais dinheiro, começaram a pensar em qual amiga levar para a próxima suruba.

Falaram com a Márcia, que disse que não ia porque tinha vergonha. Tentaram a Isabel, que negou por estar menstruada. E Isabel deu a dica: fala com a Rose que ela topa. E não é que Rose topou de primeira? No dia, estavam as três – Edna, Sônia e Rose – no sofá da recepção do hotel esperando pelo engenheiro, que não demorou. O ritual se repetiu no apartamento – vinho, banho em quatro e depois cama. A orgia, dessa vez, se estendeu pela madrugada. Edna e Sônia perceberam que o sujeito dava mais atenção para Rose. Mais beijos, mais carinhos, pegação diferenciada, supunham. Ele deu conta das três, mas Rose foi a que mais saiu satisfeita da orgia. Na despedida, outra vez dinheiro pro taxi. Para Rose – e as outras duas perceberam – foram cinco notas de cem.

O engenheiro viajou e ficou de voltar no mês seguinte. As três continuaram a vida de dadeiras, mas Edna e Sônia, quando conversavam, deixaram claro sua preocupação com Rose. Por que ela recebeu mais dinheiro? Se o engenheiro gostasse mais da Rose, as duas seriam dispensadas? Concluíram que o jeito era tirar Rose da jogada. Mas como, se o sujeito tinha o telefone das três? Pensaram até em cortar o fio do telefone na casa de Rose. Foi então que Edna lembrou-se de um dos amantes. Sujeito de boa conversa, que conhecia quase todo mundo na cidade. Com ele fez seu plano.

Quando o engenheiro voltou à cidade, hospedou-se no mesmo hotel de sempre e, cansado da viagem e do trabalho, deixou para marcar a farra para o dia seguinte. À noite, enquanto jantava no restaurante do hotel, conheceu Arlindo, um dos amantes de Edna, o sujeito de boa conversa.

Comeram e beberam juntos, falaram de futebol e mulheres. Com jeito, Arlindo conduziu a conversa e se queixou que na cidade havia mulheres que não tomavam cuidado. Especialmente uma, a Rose, que havia lhe passado gonorréia. Habilmente Arlindo descreveu o tipo de Rose e algumas de suas falas. Dicas de Edna. A conversa deu resultado.

Na noite seguinte, quase meia-noite, Rose voltava de um encontro, e ao passar em frente ao hotel viu Edna e Sônia saindo de lá. Resolveu saber o que acontecia e as duas falaram que ela não havia sido convidada para a suruba porque tinha gonorréia. Coisa dita pelo engenheiro. Puta da vida com a história, Rose invadiu o hotel e foi até o apartamento do engenheiro. Escândalo. Outros hóspedes acordaram e exigiram providências da portaria. O engenheiro se abriu e contou a história.

Então era o Arlindo Pau-Mole o fofoqueiro da história? Rose falou horrores das amigas nada amigas.

Convenceu. Daquela noite em diante o sujeito só chamava a Rose. E mandava que ela trouxesse uma amiga. Era um viciado em orgias, e seu salário permitia isso. Espertamente, cada vez que Rose ia ao hotel levava uma amiga feinha, ou magra demais, ou gorda demais. Rose era a preferida, e acabou indo morar com o engenheiro na capital.

Na cidade, as duas despeitadas preparam sua vingança. Contaram pra todo mundo as orgias que aconteceram no hotel. E quando perguntadas do porquê do engenheiro ter ficado com Rose, justificavam: ele não come ninguém, ele gosta de fio-terra. Para apimentar a história, Edna contou que havia até comprado um vibrador pelos Correios para satisfazer o engenheiro. Resumo de tudo: não se sabe o que houve com Rose e o engenheiro. Edna e Sônia continuam dando mais que xuxu na cerca. E os amantes de Edna diminuíram, provavelmente com medo de seu vibrador. Dona Anita, uma senhora especializada em xeretear a vida dos outros, filosofou: amigas, amigas, pintos à parte.

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A Editora Urbem faz parte do Grupo Novo Dia e edita livros de diversos assuntos e também a Urbem Magazine, uma revista periódica 100% digital.
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