Reabertura de shoppings em muitas cidades é criticada por especialistas, que afirmam que casos de covid-19 podem aumentar devido aos riscos
A chamada flexibilização do isolamento permitiu, em muitas cidades, a reabertura de lojas de rua e shoppings centers. A abertura se deu com restrições de horários, número de consumidores, obrigatoriedade de haver álcool em gel, avisos etc. Porém, médicos especialistas afirmam que reabertura do comércio, notadamente dos shoppings, deve aumentar o número de casos de contaminação por coronavírus. Há o consenso que o comércio precisa funcionar para diminuir o impacto da pandemia, mas talvez sejam necessárias mais vidas para a economia prosperar.
Os shoppings estavam fechados desde o começo de março. A Abrasce (Associação Brasileira de Shoppings Centers) afirmou que até a metade de junho metade dos shoppings do país estavam reabertos. Segundo a associação, há 577 shoppings centers no Brasil.
Para se adaptar ao período de pandemia, muitos desses shoppings têm funcionado em horários reduzidos. Ao reabrir as portas, muitos dos responsáveis por eles afirmam que tomaram medidas para evitar a propagação do coronavírus, como a obrigatoriedade do uso de máscaras, criação de uma área para higienização das mãos, a sanitização de ambientes e a medição de temperatura das pessoas.
Mas para especialistas, as medidas são insuficientes para conter a propagação do novo coronavírus nesses estabelecimentos no atual momento do Brasil. Isso porque os números de casos e de mortes têm tido sucessivos recordes nas últimas semanas.
Os riscos nos shoppings
Estudos mostram que a nuvem de gotículas gerada pela fala, espirro ou tosse pode permanecer suspensa no ar durante longos períodos em ambientes fechados. Outras pesquisas apontam que vírus como o Sars-Cov-2 podem permanecer infectantes nessas nuvens de gotículas por horas. Essas características, segundo especialistas, podem explicar porque a transmissão da covid-19 é rápida.
“As atividades coletivas dentro de ambientes fechados têm riscos muito maiores do que ao ar livre. Essa suspensão de gotículas no ar possibilita até que uma pessoa que está andando no mesmo ambiente, mas distante, seja infectada”, explica a epidemiologista Adélia Marçal dos Santos, especialista em dinâmica em transmissão de doenças infecciosas e professora de Medicina da Universidade de São Caetano do Sul.
Segundo Adélia, as máscaras reduzem a propagação das gotículas, mas ainda assim existe o risco de transmissão do novo coronavírus. Um dos casos que serve de exemplo é a de um shopping reaberto em 22 de abril em Blumenau (Santa Catarina). O shopping reabriu as portas em um evento com aplausos dos lojistas e com a participação de um saxofonista. Os clientes fizeram filas, com máscaras, para entrar no local. Uma semana depois, os casos mais que dobraram na cidade. “Temos essa experiência em Blumenau. A gente acredita que a situação vai continuar se multiplicando em shoppings de todo o país, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro”, afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, pesquisador Fernando Spilki.
Spilki explica que muitas das medidas que os representantes dos shoppings tomaram para reabrir os locais, como a restrição de público, não são eficazes para evitar a propagação do coronavírus. “Muitas vezes, nesses estabelecimentos não há cuidado com foco na proteção individual. Muitas vezes, não há cuidado no ambiente para evitar a propagação do vírus. Nesses locais pode haver filas e as pessoas nem sempre respeitam o distanciamento social (de dois metros). Isso facilita a transmissão do vírus”.
Os especialistas frisam que o comércio de rua também pode trazer riscos, principalmente nos casos em que há aglomeração — como registrado em diversas cidades, inclusive em Jundiaí, após a flexibilização das medidas de isolamento. A epidemiologista Adélia Marçal afirma que é difícil garantir o distanciamento de ao menos dois metros no comércio de rua e que somente o uso das máscaras não garante a proteção. “Muitos não usam a máscara corretamente e isso facilita a propagação do coronavírus. Muitas pessoas tocam no rosto o tempo todo, mexem nas máscaras e podem tocar em superfícies e se contaminar”, diz ela.