Já havia suspeitas, rumores, diz-que-diz de que o senador e ex-governador de São Paulo José Serra estivesse envolvidos em esquemas de corrupção. Mas agora tudo isso deixou de ser rumores ou suspeitas.
O Ministério Público Federal denunciou José Serra e sua filha Verônica por lavagem de dinheiro. E além da denúncia, a força-tarefa da Lava Jato de São Paulo fez a Operação Revoada para investigar “outros fatos relacionados a esse mesmo esquema de lavagem de dinheiro em benefício de José Serra”. Quando governador, Serra teria aceito a formação de um cartel entre as empreiteiras que disputavam a construção do Rodoanel Sul, elevando os preços.
A denúncia afirma que em 2006 e 2007, Serra “valeu-se de seu cargo e de sua influência política para receber da empreiteira) Odebrecht, pagamentos indevidos em troca de benefícios relacionados às obras do Rodoanel Sul”. Ainda segundo o MPF, “milhões de reais foram pagos pela empreiteira por meio de uma sofisticada rede de offshores no exterior, para que o real beneficiário dos valores não fosse detectado pelos órgãos de controle”.
Como de costume, a assessoria de Serra negou tudo. Em nota, afirmou que o senador “reforça a licitude dos seus atos e a integridade que sempre permeou sua vida pública” e que espera que “os fatos sejam esclarecidos e as arbitrariedades cometidas devidamente apuradas”. O mesma nota diz que a ação da força tarefa da Lava Jato “causa estranheza e indignação”. A Polícia Federal foi à casa de Serra, no Alto de Pinheiros, na Capital, com mandado de busca e apreensão.
As investigações, que são desdobramentos de outras da Lava Jato de São Paulo, mostram, de acordo com o Ministério Público Federal, que José Amaro Pinto Ramos e Verônica Serra teriam constituído empresas no exterior, ocultando seus nomes, e teriam recebido por meio delas pagamentos que a Odebrecht fez ao então governador de São Paulo. A força-tarefa diz que aconteceram numerosas transferências “para dissimular a origem dos valores” e que eles “foram mantidos em uma conta controlada, de maneira oculta, por Verônica Serra até o final de 2014, quando foram transferidos para outra conta de titularidade oculta, na Suíça”.
A investigação criminal, iniciada em 2017, e que levou à denúncia correu em sigilo por mais de um ano. Foram ouvidos depoimentos de dez executivos da Odebrecht, Andrade Gutierrez e OAS e obtidos documentos com a colaboração de instituições financeiras no exterior. Juntando os elementos, os investigadores detalharam um complexo esquema supostamente operado através de offshores para ocultar a origem do dinheiro. O total desviado seria de dezenas de milhões de reais. Com as provas colhidas até agora, o Ministério Público conseguiu autorização na Justiça Federal para o bloqueio de R$ 40 milhões em uma conta na Suíça.
A Odebrecht, que tem acordo de delação premiada com a Lava Jato, afirmou em nota que “hoje comprometida com atuação ética, íntegra e transparente, colabora com a Justiça de forma permanente e eficaz para esclarecer fatos do passado”. As investigações continuam, mas em sigilo.