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quinta-feira, 18 abril, 2024

Até o mercado do leite está em crise

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A pandemia do novo coronavírus tem desafiado a cadeia produtiva de lácteos que, segundo os especialistas, passa por movimentos bruscos. Primeiro, houve elevação nos preços dos produtos lácteos devido aos movimentos de consumo logo após o início do isolamento social. Para o pesquisador da Embrapa Gado de Leite Glauco Carvalho, assim que a crise teve início, ocorreu uma elevação na demanda, aumentando os preços do leite UHT e do leite em pó, que durou até o fim de março. Em um segundo momento, que perdurou até meados de maio, ocorreu a regularização do consumo e a reorganização da captação e do mix de produtos pelos laticínios, privilegiando o leite UHT e o leite em pó, segundo Carvalho.

Os derivados do leite seguiram caminhos diferentes. O analista da Embrapa Denis Rocha afirma que produtos como a muçarela e diversos tipos de queijo, cujo  consumo depende muito de estabelecimentos comerciais como restaurantes, bares e pizzarias, foram muito afetados pelo fechamento dos canais de alimentação fora do lar. “A consequência foi a queda de preços desses produtos, puxando para baixo o mercado spot (comércio de leite entre laticínios) e até mesmo o leite UHT foi afetado”, afirma Rocha.

Essa dinâmica de preços se refletiu no pagamento do leite ao produtor, que caiu 5% em maio. Para atenuar o impacto negativo sobre a rentabilidade, naquele mês também houve uma ligeira queda nos custos de produção. Na segunda quinzena de maio, Rocha afirma que “o mercado virou novamente, com valorização de preços, que vem se sustentando até este momento”. Para o especialista, isso se deve principalmente à baixa disponibilidade interna de leite e ao aquecimento da demanda, fortalecida pela liberação do auxílio emergencial do governo, beneficiando mais de cinquenta milhões de brasileiros, cujos recursos recebidos foram usados basicamente para a alimentação.

Em meio à desorganização provocada pela pandemia, o pesquisador alerta que alguns fatores devem ser monitorados: “Estimativas do Banco Central apontam queda de 7% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2020. Já são visíveis os reflexos negativos sobre os empregos e a renda da população, o que pode estabelecer um teto no preço de lácteos ao consumidor”.

Fora a pandemia, o fato de haver menos leite no mercado também influencia na direção em que os preços devem seguir. A nota de conjuntura publicada em junho pelo Centro de Inteligência do Leite (CILeite) da Embrapa aponta quatro fatores que contribuem para a pouca disponibilidade do produto no mercado: o período de entressafra na produção nacional, a piora na rentabilidade do produtor (que faz com que descartem vacas e reduzam a produção), problemas climáticos e queda nas importações.

O primeiro fator se deve a razões sazonais. Os meses de maio a junho são os de menor produção de leite no Brasil. O volume de leite produzido diariamente em maio fica em torno de 10% menor que a média anual. Neste ano, a produção ainda está sendo penalizada pela alta nos custos, puxados principalmente pelos gastos com concentrado. Quanto ao clima, o Rio Grande do Sul sofreu com eventos de seca no início do ano, comprometendo a produção. Já a respeito do volume das importações, os índices estão 39% mais baixos que em 2019 e a balança comercial de lácteos representa queda na oferta de quase 200 milhões de litros de leite.

O momento econômico é complexo não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. O analista da Embrapa José Luiz Bellini, que participou por teleconferência, da última reunião da Federação Internacional do Leite (FIL), afirma que a situação do setor em países da Europa, por exemplo, é grave. “O Velho Continente é grande produtor e exportador de lácteos e depende da renda interna e do turismo, muito atingidos para manter o consumo”, explica. Segundo ele, os laticínios europeus seguiam a estratégia de fazer uma mudança no mix de produção, privilegiando o aumento da vida de prateleira e ampliação do estoque dos produtos. “Lá fora, como aqui dentro, o mercado está se adaptando à nova realidade e compras online e delivery tiveram grande crescimento devido ao fechamento dos food services”. O analista diz ainda que pode haver um movimento de concentração do setor lácteo, com desaparecimento ou absorção de pequenos laticínios por grandes indústrias no mercado internacional.

Vários países europeus já vislumbram a retomada da economia, embora o turismo tenha sido muito afetado e provavelmente será um dos últimos setores a se recuperar. “Há um modesto otimismo nos países que iniciaram a reabertura da economia, conta o analista. A maioria dos representantes dos 43 países que integram a FIL acredita na retomada do setor em um gráfico na forma de U – após o decréscimo acentuado, haverá estabilização da crise, com um tempo maior para o retorno à normalidade, seguida de uma recuperação”, conclui.

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