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quinta-feira, 25 abril, 2024

Festa junina? Não, o vírus não vai deixar

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Uma tradição brasileira neste ano vai passar em branco – a festa junina. Para evitar aglomerações, quem promove festa cancelou a programação

Festas juninas são adaptadas às regiões. No Nordeste, por exemplo, predomina o forró. E por lá, nem se chama festa junina – chama-se São João. E o São João de Caruaru, no Pernambuco, e de Campina Grande, na Paraíba, é o mais conhecido. Nos estados do Sul, notadamente São Paulo, o tom é caipira, meio estilo Jeca Tatu, onde se destacam as danças de quadrilha e bebidas e comidas típicas da época, como o quentão (cachaça com gengibre), o pinhão, a pipoca, o bolo de fubá (coisa de mineiro) e as roupas acompanhadas da botina e do chapéu de palha.

Jundiaí teve muitas festas juninas concorridíssimas. Nos anos 1960, o Colégio Divino Salvador abrigava uma que reunia praticamente toda a Vila Arens e Vila Progresso. Havia menos construções na escola, e um campo de futebol de terra, o rapadão, recebia as barracas, a grande fogueira, e um serviço de som, meio parque de diversão, onde fogosos rapazes ofereciam músicas “à distinta dama que se encontra na barraca das argolas”. Era uma mistura de quermesse e festa junina.

Os tempos eram outros. Não havia consciência ambiental, nem leis severas. Eram conhecidos os balões com forma de elefante, feitos e soltos por funcionários da antiga Cica. Balões tão gigantescos quanto os paquidermes que lhe davam formas. Rojões de vareta predominavam, nada de caramurus. E em toda a cidade soltava-se balões. Os mais garantidos, de subir mais e ir mais longe, eram os balões caixa de oito folhas de papel de seda. Nas tochas, estopa, breu e parafina.

Clubes, escolas e paróquias promoviam suas festas, sempre concorridas e tocadas a braços voluntários. E muitos romances, que se transformaram em casamentos, nasceram ao lado de uma barraca de algodão doce, ou via correio elegante. Mas o vírus mudou tudo. Se houver festa neste ano, será virtual. E daí, da internet para a imaginação será um exercício mental e tanto. Qual será o sabor do quentão virtual? E a pipoca, virá da velha panela com óleo quente ou do microondas?

Uma das festas mais tradicionais é a que acontece – ou acontecia – no Jardim Danúbio, em Jundiaí, promovida pela sociedade amigos de bairro. Na praça principal e ruas do entorno, eram montadas barracas onde se vendia quase tudo, de lanche de calabresa à cerveja. Neste ano, a praça vai ter sua vida normal, e nada de festa, coisa lamentada por alguns moradores.

Escolas, como a Pedro de Oliveira, a Ana Paes, o Instituto de Educação e o Rosa faziam festas promovidas por seus grêmios estudantis – tempos em que grêmios estudantis se preocupavam com a educação e não com ideologia política. Festas juninas sempre tiveram vocabulário próprio: arraiá, a pronúncia caipira de arraial. Os convites não são mandados para vossa senhoria ou para o senhor e senhora – são para vosmecê, outra corruptela de vossa mercê.

Não vai ter festa, ponto pacífico. E como isso começou? Esse tipo de comemoração foi trazida ao Brasil pelos portugueses no século 16. No começo, eram uma coisa religiosa; junho é o mês dos santos Antonio (o casamenteiro), João e Pedro. Na época, a Igreja Católica mandava pra valer em deputados e governantes. Os dias 13 de junho (Santo Antonio), 24 de junho (São João) e 29 de junho (São Pedro) eram feriados, respeitados à risca pelos devotos.

Mas há historiadores que contradizem essa afirmação – na Europa, as festas de junho eram pagãs, para comemorar a passagem da primavera para o verão, o solstício de verão. Essas festas eram feitas como forma de afastar os maus espíritos e qualquer praga que pudesse atingir a colheita. As comemorações por diferentes povos pagãos europeus começaram a ser cristianizadas a partir do momento em que o Cristianismo se consolidou como a principal região do continente europeu. Assim, a festa originalmente pagã foi incorporada ao calendário festivo do catolicismo.

Essa foi uma prática comum da Igreja Católica. Para facilitar a conversão dos diferentes povos pagãos, fazia-se uma aculturação das festividades, adicionando-as ao calendário católico e acrescentando nelas elementos cristãos. Outra festa na qual essa prática se repetiu, por exemplo, foi a comemoração do Natal. A conclusão é que a Igreja Católica é boa em marketing não é de hoje.

O começo da festa junina no Brasil remonta ao século 16. As festas juninas eram tradições bastante populares na Península Ibérica (Portugal e Espanha) e por isso foram trazidas para cá pelos portugueses durante a colonização, assim como muitas outras tradições. Quando introduzida no Brasil, a festa era conhecida como festa joanina, em referência a São João, mas, ao longo dos anos, teve o nome alterado para festa junina, em referência ao mês no qual ocorre, junho.

Inicialmente, a festa possuía uma forte tom religioso – conotação essa que se perdeu em parte, uma vez que é vista por muitos mais como uma festividade popular do que religiosa. Além disso, a evolução da festa junina no Brasil fez com que ela se associasse a símbolos típicos das zonas rurais.

Simpatias das Festas Juninas

Andar nas brasas da fogueira
Há uma simpatia bastante comum e antiga no Brasil, que consiste em passear sobre as brasas da fogueira com os pés descalços. Tal prática é feita tanto por católicos quanto por leigos. Esses últimos fazem-no principalmente em razão de alguma promessa a ser paga ou algo do gênero. É interessante saber que essa simpatia remonta a um culto antigo à deusa romana Ferônia.

Simpatia do anel
Há outra simpatia para a noite de véspera de São João, relacionada com o tema da adivinhação da pessoa com que vai se casar. Em noite de São João, passa-se sobre a fogueira um copo contendo água, mete-se no copo sem que atinja a água um anel de aliança preso por um fio, e fica-se a segurar o fio; tantas são as pancadas dadas no anel nas paredes do copo quantos os anos que o experimentador terá de esperar pelo casamento.

Simpatia do ovo
É uma simpatia para adivinhar que tipo de marido se terá. A simpatia diz que as moças passavam em cruz sobre as brasas copos cheios d’água, dentro dos quais quebravam ovos, e iam expô-los ao sereno; de manhã os examinariam: e conforme as posições tomadas pela clara e a gema, formando mais ou menos uma igreja, um navio, uma jóia, que significariam casamento, viagem, riqueza, e assim por diante.

Castigar o santo para arrumar o noivo
Simpatia para arrumar marido ou para amarrar marido, o preferido é Santo Antônio. Santo Antônio de Pádua foi um santo medieval nascido em Lisboa, mas que passou boa parte de sua vida em Pádua, na Itália. Por ser um santo cuja devoção está bastante ligada às relações familiares, com o tempo, ele acabou tornando-se popularmente o santo casamenteiro.
Moças solteiras, desejosas de se casar, em várias regiões do Brasil colocam-no de cabeça para baixo atrás da porta ou dentro do poço ou enterram-no até o pescoço. Fazem o pedido e, enquanto não são atendidas, lá fica a imagem de cabeça para baixo

Oração para segurar o noivo e amarrar o marido
Há uma oração popular que é feita pela moça que está noiva, mas quer apressar o casamento ou ainda da esposa recém-casada que não quer perder o marido. Tal oração traz elementos simbólicos que são transformados em recursos para cativar ou apressar o homem em questão.

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