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domingo, 8 dezembro, 2024

O inimigo está em casa

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Com isolamento, chances de abuso infantil aumentam. Pais e adolescentes que passavam o dia fora de casa agora estão juntos dia e noite, trancados em casa, por causa do isolamento social

O convívio forçado pode trazer outros problemas para dentro de casa, além da depressão, da sensação de solidão e do estresse natural – o abuso de crianças. Numa entrevista à BBC, Luciana Temer, presidente do Instituto Liberta, afirma que o afastamento das crianças e adolescentes da escola com o isolamento rompeu o principal canal de denúncias, o professor.

“Dados do Ministério da Saúde dizem que mais de 70% dos casos de abuso infantil acontecem dentro da residência. O professor é um adulto que pode perceber esse tipo de situação, seja por uma marca física, por uma mudança no comportamento ou até mesmo por uma denúncia da criança. Sem ele, hoje essas vítimas estão impossibilitadas de se encontrar com alguém fora do ambiente familiar”, afirma Temer.

Doutora em direito pela PUC-SP e ex-secretária da Juventude, Esporte e Lazer do Estado de São Paulo, Luciana Temer afirma que a dificuldade ainda maior para denunciar em conjunto com o isolamento cria um ambiente de desproteção muito maior para a criança. Ela disse ainda que nem toda vítima de violência faz a denúncia, muitas vezes por medo.

As vítimas mais novas, segundo Luciana, têm até mesmo dificuldade em compreender que estão sofrendo abuso. De acordo com ela, muitas crianças sentem desconforto ao serem tocadas por um adulto de maneira que não estão acostumadas, mas não sabem que aquilo é uma violência.

“Quando a escola fala sobre sexualidade, respeitadas as devidas idades, você cria um gatilho para que a criança conte a própria experiência. Quando a professora explica o que são as partes íntimas, onde pode pegar, ela se dá conta da violência que está sofrendo”, explica.

Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o número de mulheres agredidas no Estado de São Paulo cresceu 44,9% em março de 2020 em comparação com o mesmo período de 2019. Foram 9.817 casos registrados neste ano contra 6.775 no mesmo período do ano passado. Essa informação vem ao encontro das afirmações de Luciana: a mãe, que em tese deveria proteger a criança, também sofre violência e não cria coragem para a denúncia.

“O isolamento, somado a outras questões, facilitou o crime. Houve maior consumo de álcool, de pornografia, e isso é um gatilho para violência sexual contra criança. Quando você tem sites pornográficos que incentivam relações sexuais entre pais e filhas, padrasto, você cria uma bomba-relógio”, afirma.

A Secretaria Municipal da Educação de São Paulo criou o site do Núcleo de Apoio e Acompanhamento para a Aprendizagem para que estudantes possam ter atendimento psicológico à distância durante a quarentena. O portal é interativo e o aluno poderá ter acesso, gratuitamente, a informações e até conversar com psicólogos e psicopedagogos de diversas escolas da cidade. Dependendo da conversa com os especialistas, o estudante poderá inclusive ser encaminhado para outras áreas e até mesmo fazer denúncias.

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A Editora Urbem faz parte do Grupo Novo Dia e edita livros de diversos assuntos e também a Urbem Magazine, uma revista periódica 100% digital.
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