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quinta-feira, 21 novembro, 2024

Ensinar na quarentena, um choque entre intenção e realidade

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Quando se impôs o isolamento social, as escolas precisaram suspender aulas. Para não perder mais tempo, o ensino foi para internet, e nem tudo está saindo como o planejado

A intenção foi boa, mas ensinar alunos pela internet está trazendo mais problemas que soluções. Estudantes têm dificuldades de todos os tipos, desde o acesso à internet, à falta de sinal em suas regiões e problemas com a família. Professores da rede pública também não estavam preparados para tanta tecnologia.

No Estado de São Paulo, a Secretaria de Educação criou uma plataforma descomunal que permite ligar professores e alunos. “Para os professores, que estão na ponta do processo, está claro que esse modelo não funciona. Ele não é inclusivo e aumenta ainda mais as desigualdades”, afirma Maria Izabel Noronha, presidente da Apeoesp (Sindicato dos Professores da Educação Oficial do Estado de São Paulo) e deputada estadual pelo PT. Para ela, não se trata apenas de um posicionamento corporativista, que defende o ensino em sala de aula, mas da falta de melhor planejamento para o uso das ferramentas digitais.

Maria Izabel conta que diariamente os professores do Estado são chamados por mensagens que chegam por WhatsApp, por chats da Central de Mídias e pelo reservado do Facebook. Não só alunos enviam mensagens. Há pais se queixando da forma adquirida pelo ensino; há mães que lamentam não controlar a situação doméstica por causa disso.

“A cada dia, recebemos mais e mais relatos de professores que estão estressados e exaustos. A principal queixa deles é que não estão conseguindo ministrar o ensino à distância por várias questões: acesso à tecnologia, falhas na programação, falta de recursos, seja internet ou celular para dar conta das atividades”, explica Neuza Ribeiro, coordenadora de uma das subsedes da Apeoesp.

As dificuldades estão escancaradas, mas professores denunciam que há pressão da Secretaria e das diretorias de ensino para a nova forma de ensinar dar certo. “Além da pressão do dia a dia para dar conta do processo, que é novo e trabalhoso, os professores ainda sofrem com ameaças de faltas e até processos administrativos caso não consigam trabalhar o conteúdo programado. Toda essa pressão é para tampar o sol com a peneira. Temos visto que isso não funciona nem mesmo na rede particular”, afirma a Apeoesp.

O Estado vê o mundo cor de rosa. O secretário de Educação, Rossieli Soares da Silva, por exemplo, afirma que a nova forma de ensinar é sucesso entre alunos e professores. “Temos clareza que não será um acesso de 100%. Mas mesmo que o aluno não se conecte no aplicativo, temos dois canais abertos com os conteúdos disponíveis. Isso ajuda resolver bastante a questão da conectividade. Estamos adaptando o conteúdo, sabemos que esse processo é novo e é difícil”, diz ele.
Os professores criticam também o conteúdo. Uma professora afirma que já viu na plataforma do Estado a mesma aula para três séries diferentes. Outros professores denunciam que a grade curricular não está sendo obedecida.

Tem acesso a um dispositivo seja ele computador, tablet ou celular?

A Internet é de qualidade?

Tem impressora?

Pais conseguem prover tempo para orientar?

Na outra ponta, os alunos que não conseguem estudar. Antonio Nonato de Souza, de 10 anos, mora na zona rural de Jundiaí. O sinal de internet por lá é péssimo. “Se ameaçar chover pode esquecer da internet”, diz o menino. Para ele, as aulas são complicadas e a falta do professor na sala de aula complica o aprendizado. “Na sala de aula, o professor explica; se você tem dúvida, pergunta na hora. E agora, nada disso é possível, e as dúvidas vão aumentando. Isso quando consigo ver as aulas”.

Jocimara Reis Alsane não tem problemas com internet. Mora na região da Agapeama, em Jundiaí, mas tem um problema que sempre termina em encrenca. Seus pais trabalham – não estão em casa. E na casa há um só computador, que ela precisa dividir com quatro irmãos. “Entre nós, até fizemos uma espécie de acordo, estabelecendo horários para cada um. Mas nem sempre dá certo, e aí acontecem as brigas”.

Um pai de aluno resume a situação de ensino público na quarentena com uma frase: a Educação estava num caminho pedalando uma bicicleta, e de uma hora para outra embarcaram numa Ferrari. É por aí.

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