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sábado, 20 abril, 2024

Como viveremos quando isso passar?

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Há a esperança que essa loucura um dia acabe. Já há cientistas anunciando progressos em vacinas e remédios para acabar com o vírus chinês. E quando isso acabar, há única certeza – muita coisa será diferente do que estávamos acostumados. No isolamento em casa, há contas e reflexões. Quando formos às ruas novamente, sem precisar de máscaras, colocaremos muitas conclusões em prática.

Certamente a frequência aos restaurantes será menor. Logo depois do grito de liberdade, muita gente vai desforrar o tempo isolado, mas logo a razão falará mais alto. Por que pagar tanto se aquele prato pode ser feito em casa por menos de 1/3 do preço? Por que sair de casa e brigar por uma vaga no estacionamento e ainda ser explorado pelo flanelinha? Melhor preparar o prato em casa. Sem transtornos.

Durante o isolamento, casais estão se conhecendo melhor, estão mostrando quem realmente são. Passado o isolamento – e isso já começou – haverá muitas separações. Quando a convivência fica difícil não há outra solução. E muitos casais sairão da clausura mais fortalecidos – são os opostos da convivência forçada. Muitas famílias continuarão a conversar, como fazem agora. Pais e filhos continuarão juntos, vendo filmes, lendo ou jogando.

As empresas certamente estão fazendo contas e a conclusão é óbvia – há muito trabalho que o funcionário pode fazer em casa, sem necessidade de cartão de ponto. Descobriu-se, enfim, que a internet serve para alguma coisa.

Internet não é só filme pornô ou rede social. Ela ajuda no trabalho também. E funcionário em casa significa custo menor. Os bancos sabem disso há muito tempo, mas a conta deles é do cliente na agência. Cliente na agência usa banheiro, gasta água, papel higiênico, papel toalha, sabonete…. E bancos, como se sabe, são sovinas ao extremo.

Poucos voltarão à rotina anterior à pandemia. Até o futebol, considerado paixão nacional, está aos poucos sendo esquecido. Grandes shows artísticos, descobriu-se, não faz tanta diferença na vida das pessoas. Artistas estão fazendo transmissões pela internet, as lives. Não por respeito ao público. Mas para não serem esquecidos. Se esquecidos, quando isso passar precisarão recomeçar do nada.

Produtores de flores tiveram uma dolorosa lição na semana passada. Como as floriculturas não estavam abertas, precisaram jogar parte da produção no lixo. Ou quase tudo. Conseguiram vender flores aos supermercados, a preços vis. No sábado, por exemplo, havia supermercado vendendo orquídeas por cinco reais. Quase nada se comparado com o preço dos tempos normais, quando filhos corriam às floriculturas em busca de orquídeas, antúrios e rosas para suas mães. Foi um Dia das Mães atípico. Será que voltaremos a ter Dia das Mães típico?

Certamente as pessoas lavarão suas mãos com mais frequência e cuidados. Princípio básico de higiene. Mas foi preciso uma campanha insistente para mostrar que isso é necessário. Assim como desinfetar muita coisa que se traz para casa. Até compras de supermercado. Ou será que antes ninguém pensava que o tomate, a cebola, a laranja que comprava já tinha sido manuseada por outras pessoas?

Os preços baixaram. Será que voltarão a subir depois de passada a neurose do coronavírus? Se hoje determinado produto pode ser vendido por X, sinal que antes a margem de lucro era demais. Clama-se hoje pela abertura de lojas. Pura ilusão. Certamente, quando elas abrirem, não haverá corrida às compras. Vai se comprar o que é necessário. Dá para viver sem o vestido ou o sapato da moda. E há outro fator – como não se sabe o que há pela frente, quem tiver um pouco de dinheiro vai guardá-lo.

E até quando o governo vai conseguir dar o chamado auxílio emergencial de R$ 600? Não por muito tempo. Serão meses de indústrias e comércio parados, o que significa menos arrecadação de impostos. E há algo imutável nessa equação: é do couro que sai a correia.

As compras pela internet se firmaram como meio de comodidade. Quando isso passar, estarão mais firmes ainda. Cessarão os memes sobre a pandemia, mas virão outros. Os dançarinos do caixão perderão espaço de vez por todas. Serão vistos como mórbidos. Coisa de humor negro.

As viagens deverão ser retomadas aos poucos. Haverá durante muito tempo o medo de ainda haver vírus escondidos em alguma praia, em alguma cidade histórica ou até nas escadarias do Cristo Redentor no Rio de Janeiro. O próximo carnaval – se houver – será insonso, sem graça. Não há motivo para extravar alegria. Muita gente, até lá, terá perdido filhos, pais ou parentes para a pandemia. Esta pandemia. Cientistas já alertaram que a próxima será pior, mais letal e devastadora.

Voltaremos a ter velórios longos ou desobriremos que aquele que morreu deveria ter sido reconhecido e respeitado em vida, e não dentro de um caixão? Ainda colocaremos coroas de flores recheadas de erros de língua portuguesa? Note-se que quase todas as coroas de flores vem com a faixa grafando saudades. E não saudade.

Assistiremos aos rolês nos shoppings em fins de semana? Iremos lavar nossos carros no sábado de manhã, só para encontrar velhos conhecidos para jogar conversa fora enquanto um moleque é explorado pelo dono do lavacar?

Não sabemos se as campanhas de solidariedade chegarão ao fim. É muita solidariedade, o que nos leva a pensar que após essa pandemia muita gente vai abrir mercearia ou quitanda – é muito alimento que está sendo doado nos dias de hoje. Muito mesmo. Ou haverá gente vendendo parte do doado ou então teremos uma população obesa, de tanta comida que lhe é dada.

Discute-se também qual será o próximo mote da Globo ou da Folha. Hoje ambas se deleitam ao noticiar que o presidente ou o ministro estavam sem máscaras durante uma solenidade. A abertura da notícia é a falta de máscara, mesmo que o fato principal seja a descoberta da cura do câncer. Não sabemos se as eleições serão adiadas. Se não forem, como será a votação? Por internet não pode – somente o ditador coreano Kim Jong Un tem 100% dos votos quando tem eleições em seu país.

A vida terá outros rumos. Talvez seja mais valorizada. Ou talvez mais banalizada. Somente quem sobreviver saberá.

ANSELMO BROMBAL
Jornalista

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