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quinta-feira, 18 abril, 2024

E daí, vai ter carnaval?

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Presume-se que não. Como também o conhecido reveillon na praia. Ou os desfiles de 7 de setembro. As demais datas não incomodam. Dia das Crianças – e também Dia da Padroeira – deverá ser tão morno quanto a Semana Santa. Dia da Proclamação da República nunca foi levado a sério. E até lá, quantos terão morrido por causa do vírus chinês?

Certamente alguns políticos defenderão o carnaval. É a maior manifestação cultural do país, dirão eles. E se é manifestação cultural vale a pena correr riscos. Mostrarão o enorme prejuízo da rede hoteleira de cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Recife… E as festas de São João? Como fica Caruaru, a maior festa do tipo no país?

Ouviremos lamentações de sambistas e seus patrocinadores, os bicheiros. Muitos donos de escolas de samba sentirão falta das verbas oficiais solenemente desviadas todos os anos. Em nome do batuque. Mas acredita-se que muitos governantes terão culhões suficientes para proibir o carnaval. Conseguiram proibir o futebol, já estão pensando em proibir bebida alcoólica. Não custa tentar.

Talvez alguém afirme que isso destrói a alma brasileira, composta essencialmente de futebol, cachaça e carnaval.

O que é preciso entender é que o vírus chinês não vai desaparecer de uma hora para outra. Que vai se cansar de contaminar as pessoas. Vai continuar rodando, sabe-se lá até quando. E se uma das mais repetidas recomendações é evitar aglomerações, a lógica é não ter comemoração alguma. O prejuízo financeiro será enorme, mas…Por enquanto são suposições, mas não dá para esperar muita coisa. Live de carnaval é quase impossível. Carnaval virtual não existe. Carnaval com máscaras cirúrgicas impensável. Só uma coisa é certa: os governos conseguirão proibir o carnaval oficial. O carnaval de blocos vai parecer manifestação contra a ditadura dos anos 60 e 70 – de um lado os foliões, de outro a polícia. Haja gás lacrimogêneo. Haja porrete. Haja cadeia.

Quem vai perder com isso? Muita gente. O sujeito que fabrica fogos para o reveillon e carnaval. A costureira que faz fantasias. O dono do hotel que não terá hóspedes. O dono da bodega na praia que não vai vender caipirinha para o turista endinheirado. A dona do bordel, que não terá funcionárias (que debandaram para outros trabalhos) e nem clientes estrangeiros, que pagam em dólar. O decorador da escola de samba, que não vai produzir suas loucuras de costume.

E as eleições de outubro, não vão aglomerar pessoas? Ou serão eleições virtuais? Se a urna eletrônica já é suspeita, votação por internet nem é suspeita – é ré confessa. Mas dirão que o sacrifício, o risco de contágio, é pela democracia. Democracia deles, dos altos salários, dos incontáveis privilégios e mordomias.

Que tudo seja proibido, menos bebida alcoólica. Uma proibição do tipo causaria uma revolução de verdade. A Lei Seca americana, dos anos 20 e 30, seria refresco se comparada com o que aconteceria por aqui. Não teríamos nos Al Capones traficando uísque – teríamos o Mané da esquina fornecendo cachaça de seu alambique doméstico.

Cerveja artesanal está em todos os lugares. E até nas cadeias os presos fabricam normalmente sua Maria Louca.
E o carnaval? Se não acontecer num ano, a possibilidade de acabar é grande. E aí o carnaval entrará para os livros de história, como entraram o Corso, o Rancho, o Entrudo. Será só lembrança de um tempo de insanidade. Um tempo em que as contas e os problemas eram esquecidos, em que tudo era alegria (falsa), e onde tudo era permitido. Tão permitido que havia distribuição de preservativos para os foliões.

Tempo em que favelados se fantasiavam de reis, prostitutas de princesas e comuns mortais em astros de TV. E o que dirão tais livros de História? Contarão que americans-bar nada mais eram que lugares onde se dava encontro da quenga com o cliente? Dirão que certos “clubs” não passavam de lupanares com nomes mais pomposos? Dirão que o Jogo do Bicho financiava desfiles das escolas de samba? Carnaval é só uma ilusão. A realidade é bem diferente.

Os americanos têm no 4 de julho, dia de sua independência, a maior data. É o dia em que todos comemoram, enrolados em bandeiras, vestidos de azul, vermelho e branco dos pés à cabeça. Todas as cidades têm seus desfiles cívicos e suas festas. E até isso deverá ser suspenso nos Estados Unidos. Questão de consciência, apesar do maluco Trump menosprezar a doença.

A Oktoberfest, maior festa da cerveja do mundo, com centenas de anos de tradição, está suspensa em Munique, na Alemanha. Não há festas folclóricas na África, nem na Europa, nem na China, nem no Japão. Seremos nós os únicos iluminados a permitir o carnaval?

ANSELMO BROMBAL
Jornalista

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