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quinta-feira, 28 março, 2024

Questão de ponto de vista

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É norma rotular-se qualquer ato como bom ou ruim. Ou mais ou menos. Depende da ótica de quem produz o rótulo. Uma esmola no semáforo pode ser vista como um ato de caridade ou de favorecimento à vadiagem e à mendicância. Uma campanha de agasalho ídem – pode ser rotulada como solidariedade, como vaidade de quem a promove ou até como incentivo à vagabundagem.

Tudo é questão de ponto de vista. Ao que interessa: o governo está liberando saques do Fundo de Garantia. 500 reais por conta. Não é uma loteria, mas ajuda. Para o comércio, uma verdadeira bênção. Ou a esperança que esse dinheiro seja gasto nas lojas, na compra de novos celulares, na entrada de uma máquina de lavar roupas. Economistas afirmam, em sua linguagem tecnês, que é injeção na economia.

E há quem diga que a liberação do dinheiro é demagogia, medida populesca, e até jogada eleitoral. Pode ser o que quiserem. Mas quem receber o dinheiro vai gostar e pouco vai ligar para o rótulo que derem a isso.

Sempre foi assim. Getúlio Vargas, embora ditador, era visto como o pai dos pobres. Para seus adversários, a mãe dos ricos. Quando os militares tomaram o poder em 1964, boa parte saudou o fato como a salvação do Brasil. Outra parte, menor, viu nisso uma ditadura, uma violação às regras. Quando eleito pelo Colégio Eleitoral em janeiro de 1985, Tancredo Neves era a esperança de um país melhor. Para parte dos brasileiros. Para outros, era a conivência com regras injustas, resultado de acordos – portanto, Tancredo era um traidor. Sua maior glória foi não ter governado.

Fernando Collor foi outra esperança. Esperança que acabou no dia seguinte à posse, quando confiscou contas correntes e poupanças. Mas era visto como moderno, audaz, ousado, estadista. Um presidente de olho no futuro. Também questão de ponto de vista. Os que o criticaram, foram vistos como gente sem senso de patriotismo. O tempo mostrou que Collor e sua quadrilha estavam mesmo de olho no futuro. No próprio futuro.

E assim as esperanças foram se repetindo com o passar dos anos. E as decepções também. Em todos os períodos não faltaram elogios de uma parte, críticas de outra. Não existe unanimidade. O simples ato de lavar uma calçada divide opiniões. Uma vizinha invejosa pode entender que quem faz a limpeza está desperdiçando água. Para outras vizinhas, menos ou não invejosas, a lavagem da calçada é sinal de higiene.

Prostitutas já foram vistas como um alívio para as tensões do dia a dia. Ou como desgraça das famílias. Hoje, com tantos eufemismos em voga, nem são mais prostitutas. São escorts, garotas de programa, acompanhantes.

Sua clientela não é mais de gente sem caráter. Gente destruidora de lares, dir-se-ia um tempo. Hoje são distribuidores de renda. Nas redes sociais estão os maiores exemplos de que tudo é questão de ponto de vista. A foto de aniversário de uma amiga virá invariavelmente acompanhada de comentários to tipo linda! arrasou! – nem sempre tão sinceros como deveriam ser. No privado, os comentários certamente serão mais ácidos.

Conclusão: o grande problema nosso é o ponto de vista. Talvez seja preciso pensar menos, se preocupar menos. Quanto aos 500 reais do FGTS, que se faça bom uso. Seja na loja, no prostíbulo ou na cervejada. Onde será gasto não é problema nosso. Também uma questão de ponto de vista.

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