Dia 30 de Setembro é dia do santo católico São Jerônimo, porém, mesmo entre os adeptos da própria Igreja Católica, poucos conhecem aquele que faleceu nesta data no ano de 420.
Quem conhece a história de São Jerônimo sabe de seu feito histórico: a pedido do Papa Dâmaso, traduziu com precisão para o latim o Antigo e Novo Testamento, que com o nome de “Vulgata”, se tornou a Bíblia oficial do Cristianismo. Por isso este santo é chamado o “Doutor Máximo das Escrituras”.
Santo importante, mas pouco cultuado na Igreja se comparado aos seus “colegas” São Benedito, São Francisco, Santo António, Santo Expedito, entre outros muito mais populares.
Acontece que, logo depois das caravelas portuguesas importarem o santo para estas terras tupiniquins, navios negreiros trouxeram os africanos escravos que cultuavam seus próprios “santos”, os Orixás.
Proibidos de render culto aos seus Orixás e obrigados a adorarem os santos da Igreja europeia, para disfarçar, passaram a associar santos católicos com Orixás, no fenômeno chamado sincretismo.
Coube a São Jerônimo ser eleito pelos escravos para representar um tal de Xangô, que nada mais é do que um dos principais Orixás dos cultos afrodescendentes.
Graças a isso, hoje São Jerônimo é um dos santos mais importantes para adeptos dos cultos afro, e por isso muito festejado neste mês de setembro. Se pouco lembrado na sua própria Igreja de origem, é alvo indiscutível de uma das maiores devoções da fé umbandista.
Xangô, o Orixá.
Xangô é o deus do trovão, sua majestade se confunde com sua importância para os filhos-de-santo, tão verdadeiro este fato que em alguns lugares no Brasil diversos cultos atendem pelo nome de Xangô.
Na Bahia, forte reduto da prática do Candomblé, os terreiros mais importantes e antigos têm Xangô como Orixá principal de suas casas, a Casa Branca do Engenho Velho, a primeira casa de Candomblé da Bahia, o Ilê Iyá Omi Axé Yamassê (chamado também de Terreiro do Cantuá ou Gantois, bastante conhecido através de Mãe Menininha) e também o Ilê Axé Opô Afonjá de Mãe Aninha e Mãe Senhora, colocam o Orixá sincretizado com São Jerônimo em grande destaque dentro de sua liturgia.
Xangô é o fogo, o raio, o trovão, seu Axé está nas pedreiras, nas rochas que não se consegue quebrar a não ser pelo seu próprio raio. Sua área de maior atuação é a Justiça, assim como seu símbolo principal é o “Oxê”, um machado de duas lâminas, pois não se faz justiça sem que se observe os dois lados de cada situação. Além disso, Xangô representa a liderança, a autoridade, e a família. Foi casado com três divindades: Obá, Oxum e Oiá, esta última guerreira teria reinado ao seu lado até o fim de sua jornada na terra antes de se tornar Orixá.
Xangô também aparece sincretizado com São João Batista e São Pedro, ambos comemorados em junho, mas é em setembro, dia de São Jerônimo, que a maioria dos terreiros entram em festas para saudar um de seus principais Orixás.
por Pai Alexandre Falasco