Na vida de mais de 1,5 milhão de brasileiros — e de 1 a 2% da população mundial —, as urticas brotam do nada e coçam feito sei lá o quê. São lesões avermelhadas que formam placas elevadas na pele e acabam com a tranquilidade de qualquer ser humano.
Às vezes, esse comichão irritante é acompanhado de um inchaço dolorido, no fenômeno conhecido por angioedema. E, da mesma forma como tudo isso aparece sem aviso prévio, desaparece sem deixar vestígio passadas de uma a 24 horas. Some. Só que não, só que volta.
Dali a dois, três dias, a história inteira se repete. Para alguns, as urticas começam a bater ponto diariamente — ora nos braços e ora nas pernas, ora nas costas e ora na barriga. A cada crise, uma região do corpo pode ser a vítima da vez. E, diga-se, existem pessoas que têm três ou mais crises entre um amanhecer e outro, sentindo na própria pele um inferno que gostariam de exorcizar com suas unhas.
Se a situação incômoda ultrapassa seis meses, estamos diante do que os médicos classificam como uma urticária crônica e, em 60% dos casos, digo mais, trata-se de uma urticária crônica espontânea ou simplesmente UCE, que é caso mal compreendido daqueles 1,5 milhão de brasileiros.
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Embora possa aparecer em qualquer idade, a UCE é mais frequente na faixa entre os 30 e os 55 anos, sendo um pouco mais recorrente em mulheres. E não adianta fuçar ao redor do indivíduo, caçando uma causa para a encrenca. Ela não precisa de um motivo externo. É exatamente o que o nome diz: espontânea.
Aliás, está aí um erro bastante comum. Bastou a pessoa, toda se coçando, começar sua peregrinação por consultórios e ela já entra naquela de cortar isso e aquilo da rotina. Faz alguns sacrifícios à toa.
Muitos clínicos, afinal, nunca ouviram falar da dita-cuja em sua formação e agem como se estivessem diante de um paciente alérgico. Não estão. A UCE não é uma alergia, quadro em que seu organismo ataca algo estranho, de um ácaro no ar poeirento à proteína de um camarão. Nada disso.