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quarta-feira, 27 novembro, 2024

Já foi o orgulho; hoje trens formam cenário desolador

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Os primeiros trens circularam em Jundiaí em 1867, quando a São Paulo Railway (depois Santos a Jundiaí) inaugurou o serviço. A estação ferroviária foi inaugurada em fevereiro daquele ano. Cinco anos depois, a Companhia Paulista de Estradas de Ferro (depois Fepasa) foi inaugurada, ligando Jundiaí a Campinas. E a estação passou a ser seu ponto inicial também.
Em frente, havia uma praça, mais tarde nominada Praça Mauá, homenageando Irineu Evangelista de Souza – um dos maiores acionistas da SPR. Era o orgulho não só da cidade. Elegantes senhoras se vestiam o que havia de melhor para viajar nos trens. Os vetustos senhores acompanhavam a finesse. Foi uma época de ouro – não faltavam passageiros nem cargas, principalmente o café colhido no interior paulista, exportado via Porto de Santos.
O desmonte das ferrovias começou nos anos 60, quando o governo escolheu dar prioridade aos automóveis, ônibus e caminhões. Foi um desmonte lento e silencioso. A realidade atual não é nem sombra do que já foi a ferrovia – a Praça Mauá desapareceu, a estação está em pandareco, e vagões abandonados estão nos trilhos ao lado da avenida dos Ferroviários. Quase uma ironia.
Nem Fepasa, nem Santos a Jundiaí existem mais. O último trem de passageiros da Fepasa passou por ali em 15 de janeiro de 1999. O trecho da EFSJ agora é da MRS Logística, que não quer saber de passageiros – somente cargas. O outro tipo de carga, transportado tal qual gado, ficou com a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). E num toque de elegância renomeou os trilhos como Linha 7-Rubi.
Foi só um toque. Os trens trafegam lotados, raramente cumprem horário e não são poucas as reclamações sobre a marginália que age nos vagões, assaltando e assediando sexualmente as mulheres. Consumo de drogas é algo comum, e em grupo de viciados. Pedintes e estridentes vendedores completam esse submundo.
Os vagões que não mais circulam foram abandonados nos trilhos que estão no trecho da MRS. Com autorização da bondosa MRS. Pichados, saqueados e usados frequentemente para consumo de drogas ou encontros com prostitutas sem qualquer classe ou pudor, com clientes do mesmo naipe. Isso gera medo e reclamação.
A CPTM, ágil como uma tartaruga aleijada, afirma que já leiloou sete vagões. E que pretende fazer novos leilões até o final do ano. Para tentar segurar a onda, a CPTM afirma também ter instalado dois postos de vigilância 24 horas na área onde estão os vagões. Coisa que parece não estar fazendo efeito.
Também está programada para setembro uma roçada em volta da estação ferroviária. Programada é uma coisa. Feita é outra. E como a CPTM é pródiga em previsões, afirma estar terminando o projeto executivo para dar um jeito de gente na estação ferroviária. Que seja lembrado no projeto que a estação é tombada pelo Patrimônio Histórico.
Parte do projeto já foi aprovada pelo pessoal que tem olhos para a preservação. O que a empresa pretende é modernizar o lugar (descaracterizar), mexendo nas plataformas, passarela, sala de equipamento e elevadores. Como tudo já está muito diferente do que era, nova reforma deverá transfigurar a estação. Por sinal, inaugurada oficialmente em 1890.
Para fazer tudo isso a CPTM afirma que vai instalar uma estação provisória – onde nem Deus sabe. Mas já abriu concorrência. Outra das previsões da empresa: as obras da primeira fase (quais?) poderão ser contratadas ainda neste ano. Por sinal, ano de eleição, com custo de R$ 4,5 milhões.
Nem tudo está ou foi perdido. A CPTM afirma também que no ano passado fez obras de emergência na estação – reforçou as estruturas da cobertura e fez revisão nas instalações elétricas. A torcida agora é que a empresa revise seus conceitos.
Sucata, fim da nossa história
Como tudo o que é histórico, os vagões da CPTM abandonados ao lado da avenida dos Ferroviários serão mesmo sucata. Diferente de outros lugares, onde vagões inativos se transformam em bares e restaurantes. Por capricho, por exemplo, no bairro do Caxambu uma família conserva um vagão bem mais antigo que os de aço da CPTM, em seus jardins.
Quando a Fepasa abandonou vagões das antigas Paulista e Araraquarense em seus ramais e desvios, aconteceu o previsto. Primeiro foram roubados bancos estofados. Depois as peças de cobre, motores, dutos e tudo o que podia ser vendido em ferro-velho. Em pouco tempo a história de parte da ferrovia virou fumaça.
Louveira recuperou sua estação e a transformou num ponto de encontro, com atividades sociais e culturais. Agora está recuperando a estação de energia elétrica. Até um velho avião foi levado para o interior paulista e transformado em restaurante. Virou atração turística. Por aqui a história é outra – há pouco tempo a antiga Estação da Paulista, perto da rua Torres Neves, foi incendiada. O Dnit, dono do prédio, nem se mexeu. Questão de cultura.

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