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sexta-feira, 29 março, 2024

Facebook, Instagram e o fantástico mundo dos Cupcakes

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Perdi o emprego e sou mais um entre os 13 milhões de brasileiros na fila dos desesperados, quero dizer, dos desempregados.
Minha mulher – ou ex-amasiada – me deixou sem eira nem beira depois que descobriu a sequência desenfreada de traições.
A conta bancária anda mais negativa que as perspectivas daquele expert analista econômico diante das futuras finanças do Brasil.
Duvideodó que você tenha trombado com alguma dessas postagens no feed de suas redes sociais. Mas aposto o que quiser – menos dinheiro, porque isso caracteriza jogatina e como tal é proibida no Brasil – que mesmo sem ter mudado nada no seu dia, você deve ter tomado conhecimento que a fulana foi trabalhar ouvindo o último hit parede às 7h30 da manhã.
Assim como, sem querer querendo, a você foi apresentada mais uma daquelas frases de autoajuda, no melhor estilo O Segredo, inversamente proporcional à prática do maluco/coautor/plagiador que postou, mas e daí. O objetivo aqui nem era abraçar uma árvore, mas mandar para o universo de determinada pessoa a mensagem de ‘olha como estou felizão sem você’. E vou ficar ainda mais feliz quando você visualizar essa mentira toda.
Segue o feed e você não pode ir dormir sem antes receber a preciosa informação de que aquele delicioso ensopadão preparado pela namorada ogra será compartilhado com seus outros trocentos seguidores. Missão cumprida.
Pergunto: Será mesmo que a descobridora da melhor banda dos últimos tempos das últimas semanas conseguiu curtir e/ou sentir a batida, letra e melodia da canção, enquanto seguia o seu famigerado percurso diário, ou seu pensamento ziguezagueava para a melhor hashtag a ser postada no Insta?
E a frase, de conteúdo profundo, copiado do para-choque daquele caminhão de farol baixo, terá chegado ao destino que o remetente verdadeiramente desejou alcançar? Ou se perdeu pela rede e virou indireta a quem não devia?
Quanto a mensagem de bom dia, vou te dizer uma coisa; tem tanta gente falando em nome de Deus, que eu fecho os olhos e imagino meu Pai com fones de ouvido, comandando uma pick-up, dessas que só os DJ manjam, sabe como é? E aí, no desespero de não ouvir tanta asneira ele deve soltar um salmo de São Francisco de Assis em ritmo de salsa ou até mesmo um arranjo do melhor de todos os rappers mandando um ‘perdoe meus filhos, eles não sabem o que fazem”. Ou vai dizer que sabe?
Eu mesmo tenho lá minhas dúvidas. Quando ouso escrever este texto, penso se isso não seria despeito, inveja, dor de cotovelo ou coisa que valha. Pior, não teria eu sido acometida pela mesma crise doentia de Narciso que, apaixonado pela própria imagem refletida no espelho d’água, acabou afogado e morto.
Se não narcisismo, como explicar essa louca mania que impera no mundo, de se mostrar feliz ‘full time’. Minha analista costumava dizer que a sociedade andava doente. Ela morreu, minha analista. A sociedade, à passos largos caminha, ninguém sabe para onde, mas desconfio que para o mesmo fatídico fim.
Nem o cara que posta todos aqueles pratos, vídeos, pernas que se enroscam, lábios que se encostam, lugares desvendados, sabores descobertos, estaria com a cabeça onde, enquanto insistia em se manter na lembrança de seus seguidores?
Seria o ego inchado, o bilhetinho de felicidade pendurado na porta de entrada do mundo ou o grito alto para aquela pessoa a quem realmente interessa chegar sua postagem? Mas e o sabor, o calor, o arrepio e o amor? Bom, isso eu te mando por direct.
Na vida real estes sentimentos podem não vir e, tudo bem, porque ninguém vai saber mesmo. O importante é o mundo dos cupcakes, onde o ensopado do mozão é dividido com os 377 seguidores do insta, mais os 3.280 amigos do face. O que vale é avisar geral que sua felicidade é tamanha que você seria capaz até de roubar os anéis de Saturno.
Desculpe o auê, mas eu prefiro fechar com Einstein e a sua tal Teoria da Felicidade. O físico alemão de cabelo desalinhado aposta que para se ter uma vida feliz, é preciso se amarrar a uma meta, não a pessoas ou coisas. Não se iluda, o mundo não está interessado se você chora ou ri, torce para o Vasco ou Botafogo, come buchada de bode ou comida vegana.
Encare a realidade. O mundo dos cupcakes não existe. Mas se te serve de consolo, a vida é o resultado de suas escolhas. Vai se jogar no show dos seus sonhos ou passar parte dele gravando vídeos para postar no Insta. Qual vai ser?

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