Os dias não eram bem assim

A TV Globo, também conhecida como TV Lixo, está exibindo uma série, Os dias eram assim, onde pretensamente relata como eram os tempos em que o Brasil era governado pelos militares. A série, tendenciosa ao extremo, pinta os militares como verdadeiros dragões prontos a queimar com seu fogo quem estivesse em seu caminho.
Qual a intenção da Globo não se sabe. Ou melhor, não está clara. Os 20 anos do regime militar não foram um paraíso, mas também não foram o inferno pintado pela Globo. Houve excessos, perseguições e injustiças, mas houve muito progresso também. E ninguém era procurado de graça pelo Dops (Departamento de Ordem Política e Social).
Os militares toleravam a oposição. Ulisses Guimarães e Tancredo Neves, por exemplo, falavam o que queriam. Tomavam um outro puxão de orelhas, mas falavam. Também participavam de passeatas e protestos – mas eram manifestações bem diferentes da arruaça que se vê hoje em dia.
Jornais eram censurados em nome da segurança nacional – um exagero – mas nenhum jornalista era preso por escrever coisas que o governo não gostava. A ideologia da época era de direita, e como tal o governo queria o país. Quem não estivesse satisfeito que se mudasse. Um dos presidentes, Médici, até divulgou o slogan Brasil ame-o ou deixe-o.
Todos os presidentes militares saíram do governo tal qual como entraram. Pobres. Não aproveitaram o dinheiro que tinham à mão para roubar. Bem diferente dos tempos atuais. E toda vez que se aborda essa questão em filmes, invariavelmente se mostra o meio estudantil.
Estudantes podiam pensar e se manifestar. Mas como todos os cidadãos, não podiam se armar para assaltar bancos, atacar quartéis e matar pessoas em nome de uma causa. Ter idéias, ser contrário, contestar é bem diferente de se armar para impor uma idéia.
Dos expoentes da época, alguns confirmaram muitos anos depois sua condição de bandidos de fato. Dilma Roussef, ex-presidente da República, pertencia a um grupo de guerrilha que assaltou bancos e atacou quartéis. E ela, pessoalmente, participou do assalto à casa do ex-governador paulista Adhemar de Barros, de onde levaram um cofre com alguns milhões.
José Genoíno fazia guerrilha no Araguaia. Armado e disposto a matar quem se lhe opusesse. Preso, foi condenado pelos juízes militares. Muitos anos depois, José Genoíno, alçado à condição de herói, foi novamente condenado. Dessa vez pela democracia, por continuar roubando. Estava no escândalo do Mensalão.
José Dirceu, então líder estudantil, também foi à guerra e assaltou bancos. Precisou fazer operação plástica para trocar de rosto. Voltou herói – deputado federal e chefe da Casa Civil da Presidência. Ainda está preso, condenado por outros crimes no Mensalão. Conservou sua essência, a de bandido.
Lula, ex-presidente e presente no noticiário diário por uma série de escândalos (Petrobras, por exemplo), não pode ser considerado um subversivo – era informante, dedo-duro, alcagueta do chefão do Dops, delegado federal Romeu Tuma. As afirmações estão no livro escrito pelo filho de Tuma, Júnior, que também foi deputado federal.
A Globo, tal uma prostituta barata, se vende ao primeiro que pagar. Pior de tudo, é uma prostituta infiel. Só cresceu à sombra dos governos militares, quando era usada para doutrinar e esconder notícias desagradáveis ao regime.
Essa tentativa de se mostrar imparcial, contrária aos militares, só mostra seu medo de que esses tempos possam voltar. Coisa que ninguém quer, mas que não é impossível. Há quem diga que não há clima para golpe. Há. Pela bagunça que está, há clima para um golpe ainda hoje. Dá para apostar que o povo aplaudirá. As contestações serão as dos de sempre.
Os governos militares não foram o supra-sumo da benevolência, nem da bondade, muito menos da delicadeza. Mas eram bem diferentes desse bando de ladrões e corruptos que hoje estão no governo. E é bom que a Globo saiba que os dias não eram bem assim.
Anselmo Brombal