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Jundiaí
terça-feira, 23 abril, 2024

E então, mostrar o que?

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No domingo passado, o secretário estadual de Turismo esteve em Jundiaí, e disse ao prefeito que quer incluir a cidade como sendo de interesse turístico. Foi mais longe: disse também que a cidade reúne todas as condições, e que, apresentando o projeto, vai garantir verba para investimentos no turismo local.
Valeu o esforço. Mas aí começam as perguntas. O que temos a mostrar para os turistas? As ruínas da antiga Tecelagem Japi na Vila Arens? A completa descaracterização da antiga Argos Industrial? As ruínas da antiga Companhia Paulista de Estradas de Ferro, o tal complexo Fepasa? A Ponte Torta?
Não somos pessimistas, mas fica difícil estabelecer um roteiro decente. Roteiros indecentes haveria aos baldes. Poderia ser a Rota do Pecado – os turistas conhecendo as mulheres de vida torta e os travestis presentes nas ruas centrais, ganhando seu suado pão de cada dia. Literalmente.
Poderia ser também a Rota do Buraco – turistas passando por aventuras em nossas ruas, desviando de buracos e de ondulações do asfalto, como as da rua Secundino Veiga, no Centro. E que tal um roteiro artístico? Um passeio pelas ruas mostrando o que nossos pichadores conseguem fazer nos prédios. E dizem que é arte de rua.
Roteiro das Praças – uma volta pelas principais praças, todas infestadas de pedintes e flanelinhas. Roteiro Ferroviário seria outra pedida, começando pela estação na antiga Praça Mauá, arrasada após a passagem da avenida dos Ferroviários. Uma estação de estilo inglês, quase toda descaracterizada por conta de reformas malfeitas.
O Roteiro das Ruínas poderia ostentar painéis fotográficos. Na Argos, por exemplo, ao lado da chaminé (única coisa que restou), fotos lembrariam que havia um prédio onde estava a Fiação. Era réplica exata de uma fábrica de Manchester, na Inglaterra, aqui construída no começo do século passado. Um prédio arrasado, sem dó nem piedade.
Dia antiga Companhia São Bento nem se tem mais notícia. Tudo foi posto abaixo, e no terreno apareceram prédios. A Rota dos Condomínios seria o programa mais longo, mas que poderia ser dividido entre os comuns, para os simples mortais, e os que têm linda vista para a Serra do Japi. A Rota das Grades seria, em compensação, o mais curto passeio – basta mostrar a Praça Sebastião Pontes, a que rodeia a igreja da Vila Arens. Única praça gradeada do mundo., para que os miseráveis não incomodem os piedosos fiéis.
E as consequências, quais seriam? Inúmeras. Restaurantes mandariam seus preços já exorbitantes para cima. O trânsito ficaria pior do que está, com engarrafamentos em mais vias já estreitas e ocupadas. E onde alojar os turistas? Já faltam vagas nos hotéis de Jundiaí. Solução seria criar pousadas e pensões.
Turistas com espírito mais ecológico poderiam ser levados ao Jardim Botânico (bonito, diga-se de passagem) e ao Parque da Cidade. A Serra do Japi deveria continuar com as restrições já existentes – se mexer, aguente-se os protestos.
Sequer um portal temos nas entradas da cidade para mostrar aos turistas, coisa que pode ser vista em Vinhedo e Itupeva, por exemplo. Mas temos um gueto, bem na entrada da cidade, no Jardim Ana Maria. Uma lembrança dos tempos de Varsóvia durante a invasão alemã em 1939.
Antes que tudo isso aconteça, alguém precisa avisar o secretário que a Catedral Nossa Senhora do Desterro não é nenhuma Capela Sistina; que aqueles monstrengos em frente da Catedral não são a Torre Eiffel e que no Córrego Guapeva não dá para ter passeio de gôndolas como em Veneza.
Em todo o caso, bem-vindos à Estância Turística de Jundiahy.
Anselmo Brombal

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