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quarta-feira, 26 junho, 2024

Editorial: A questão dos alimentos

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Tornaram-se frequentes as notícias de proibições da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) de alimentos industrializados impróprios para o consumo. Ora porque não atendem certos requisitos burocráticos, como registros, ora porque estão emporcalhados. As mais comuns são de pelos de rato em extratos de tomate.
Se está aparecendo pelo de rato é porque tem rato demais nos lugares onde essa gororoba é produzida. E se tem rato demais, é porque faltam certos cuidados básicos de higiene. O rato, reconheça-se, é um dos animais mais espertos e inteligentes. E desconfiadíssimo. Basta saber que, se alguém colocar veneno, dependendo do manuseio ele não come – sente o cheiro do humano e desconfia.
O rato tem hábitos noturnos, embora não dispense uma refeição durante o dia. E o rato só vive e procria onde o ambiente lhe é favorável, onde não é incomodado e onde há comida à vontade. Ambientes hostis são a melhor forma de espantar o bicho. Bom, se o rato precisa de tudo isso para, no mínimo sobreviver, imagina-se como é o ambiente dessas fábricas.
A punição é branda, suave. E isso incentiva as fábricas a manter as mesmas condições ad infinitum. Se fossem fechadas, lacradas, multadas pra valer, seus donos tomariam outra atitude, tratariam de limpar de fato o ambiente onde o alimento é produzido. Ou, na pior das hipóteses, aumentaria o valor do jabá do fiscal.
Isso é o que aparece, o que está na mídia. O que continua escondido é outra história, e deve ser bem tenebrosa. Vamos imaginar como o açaí, por exemplo, chega até o consumidor. Está mais que provado que é colhido em condições precárias nas plantações, transportado da mesma forma – e higiene, no caso, passa longe. Ao masserar a fruta, juntos vão insetos e outros vegetais. Ninguém fala sobre isso.
Vamos imaginar também como são alguns queijos caseiros, vendidos por ambulantes, que, ao expor o produto, expõe também a falta de refrigeração e cuidado. Imaginemos ainda o palmito, colhido em meio a mato e tratado de qualquer jeito até chegar a certas fábricas, onde são acondicionados em embalagens com rótulos duvidosos e vendidos a precinhos camaradas.
Evidente que nem todas as marcas se enquadram no padrão chiqueiro de higiene. Há muita gente séria no mercado, produzindo alimentos de qualidade. Mas aí há outro problema – quem revende o produto tem os mesmos cuidados.
Há muitos anos, quando existia o supermercado Disco, na Vila Arens (que depois se tornou Paes Mendonça), via-se constantemente ratos de bom tamanho passeando entre as vigas próximas ao telhado. Esses ratos não estavam lá por acaso.
Sabe-se também que há gente que aproveita tudo – quando o rato rói a peça de queijo, corta-se o pedaço roído. O que sobra é fatiado ou cortado em pedaços menores – uma espécie de facilidade para as donas de casa que não precisam levar uma peça inteira para alimentar a família.
Há um bom tempo também era comum se vender peixe nas ruas. Transportados em caixas com gelo, os peixes passeavam o dia todo até encontrar o comprador. Num certo dia, um dos peixeiros se queixou ao fornecedor que estava vendendo pouco e com isso muito peixe se estragava. Conselho do fornecedor: quando estiver começando a apodrecer, limpa o peixe e faz filé, que a mulherada adora comprar o peixe quase pronto. Pronto e podre.
Pelo que se nota, estamos vivendo uma situação periclitante. Faltam fiscalização, leis mais severas, vergonha na cara. Os antigos italianos resumiriam tudo isso numa afirmação: tutto senza giudizio.

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