Zé Roberto corta tudo, de carnaval a cargo comissionado

E a reação não foi a esperada. Maioria aprovou corte de verba para o Carnaval de Campo Limpo
N o começo do ano, o prefeito José Roberto de Assis, de Campo Limpo Paulista, anunciou que não daria dinheiro para o Carnaval, prática mais que tradicional em todas as prefeituras brasileiras. Esperava-se uma onda de protestos, que não aconteceu. Ao contrário, todo mundo pareceu entender, e no fim sua atitude acabou aprovada.
“O custo do Carnaval em nossa cidade fica mais ou menos em R$ 200 mil”, diz Zé Roberto. “Entendemos que não era hora de gastar esse dinheiro em folia e vamos usá-lo em outro lugar”. O outro lugar que ele diz é na Guarda Municipal – logo sai a concorrência para compra de três novas viaturas.
Havia também outros motivos. Em 2013 quatro escolas desfilaram; no ano passado, três, e neste ano só duas sairiam às ruas; a bicampeã ficaria de fora, e o custo seria praticamente o mesmo. Fez-se então um acordo: a prefeitura cede o ginásio de esportes para as escolas e blocos fazerem sua festa, mas não põe um centavo, só vai dar alguma estrutura, como policiamento e organização do trânsito.
Zé não fala, mas deve ter estudado bem a situação. Político experiente (prefeito pela terceira vez, vice uma vez, vereador e presidente da Câmara), entendeu que a cidade precisa de mais segurança. E precisa mesmo. Campo Limpo e Várzea Paulista lideram os números de furtos e roubos de veículos na região.
Além de três novas viaturas, Zé Roberto vai chamar 20 aprovados em concurso para a GM, que hoje conta com 50 homens. Há outro problema ainda: no ano passado, a cidade deixou de receber pouco mais de R$ 7 milhões do Fundo de Participação dos Municípios, de ICMS e do Fundeb. A expectativa neste ano é que seja pior.
“Com essa anunciada crise na indústria automobilística, acreditamos que o ICMS tenha uma queda grande em nossa cidade, uma vez que Campo Limpo tem na Krupp metade de sua arrecadação”, explica ele. “No ano passado, conseguimos equilibrar o orçamento, mesmo com a perda, e neste ano faremos o mesmo”.
A Krupp é uma das principais fornecedoras da indústria automobilística, e sua atividade influi na cidade inteira. Mas Zé Roberto quer novas empresas na cidade. “Há mais de 20 anos não temos novas empresas, e nesse tempo algumas deixaram a cidade, por isso criamos o Prodecamp (Programa de Desenvolvimento de Campo Limpo) para atrair essas novas empresas”. O projeto está para ser votado pelos vereadores.
Até maio um novo viaduto deve ficar pronto – pelo menos é a previsão. Antes mesmo de ser aberto e tirar todo o trânsito de dentro da cidade, alguns empresários já disseram ter interesse em se instalar em Campo Limpo Paulista, dada a facilidade de escoar a produção. A rodovia Edgar Máximo Zamboto liga Campo Limpo às rodovias Fernão Dias (para Minas) e Dom Pedro (que faz acesso à Via Dutra, para o Rio de Janeiro).
Para ajudar, há um distrito industrial ao lado da rodovia Edgar Máximo Zamboto em fase de aprovação. É particular, mas é bem vindo. E a prefeitura pretende criar outro, na Fazenda Moinho, também ao lado da rodovia, com dois milhões de metros quadrados.
A economia não fica só no Carnaval. Zé Roberto está cortando pela metade o número de cargos comissionados, que era 615 – vão sobrar 283. “Até coveiro de cemitério é cargo em comissão”, comenta o prefeito. Até o final do ano, a prefeitura deverá economizar R$ 9 milhões com isso – o Orçamento é de R$ 155 milhões.
Com bom relacionamento com a Câmara, e sem problemas com abastecimento de água, feito pela Sabesp, Zé Roberto será o prefeito que vai comandar a festa dos 50 anos da cidade em março. “O abastecimento por enquanto é de situação tranquila. Recentemente, a Sabesp fez um monitoramento dos agricultores que tiram água do Rio Jundiaí à montante e concluiu que era muita água”, explica ele. “A recomendação foi para que isso fosse feito à noite”.
Voltando aos festejos dos 50 anos – a prefeitura não pretende gastar dinheiro em foguetório. “Vamos promover comemorações, mas sem gastar. As empresas aqui instaladas deverão firmar parcerias para uma festa de verdade”, diz o prefeito. Em tempos de crise, enfim um pouco de lucidez e bom senso.